Esse meu espaço é na verdade um lugar onde posso postar meu textos e pensamentos. O blog possui esse título porque acredito que o ponto final limita as palavras e sentimentos são muito maiores do que as palavras podem descrever, por isso às vezes não uso ponto final para que os sentimentos não se sintam acorrentados às limitações da gramática.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
O mundo à venda
Não há quase nada mais que não se possa comprar.
Para os sem amor é vendido o sexo.
Para os sem educação são vendidos diplomas.
Para os humildes são vendidos milagres.
Para os doentes é vendida a saúde.
Para os tristes são vendidas as drogas.
Para os fora da lei é vendido o suborno.
E para os que não têm corpos “perfeitos” são vendidos silicones.
Mas de todas as coisas que hoje se encontram à venda no mundo.
A que mais se vende é justamente aquela que nem mesmo deveria ter preço.
A nossa dignidade.
domingo, 5 de junho de 2011
Escravos
Viva a liberdade, viva o fim das correntes e dos açoites, viva o fim da senzala e vivamos todos na casa grande! O suor e esforço dos mais fracos é agora recompensado, é pago em dinheiro e liberdade. Agora não existem mais documentos que separam possuídos de possuidores, não há mais diferença entre negros e brancos, pois somos todos filhos da liberdade. É findada a escravidão, o homem liberta o homem.
Agora somos todos livres para pensar, para agir, para amar, para fazer tudo àquilo que cabe ao homem. A tão sonhada liberdade enfim chegou e o homem em seu imensurável brilhantismo usou-a para mais uma vez escravizar-se. Tornamo-nos todos apenas um, todos iguais, todos escravos do homem pelas invenções do homem.
Somos todos regidos pelos ponteiros incansáveis e impiedosos do relógio que sempre nos diz qual é a hora certa para tudo, das coisas mais triviais àquelas fora da rotina nada pode ser feito sem a permissão do relógio. As punições para quem desobedecê-lo podem não ser tão fisicamente dolorosas quanto cinqüenta chibatadas, mas podem trazer um dolo que não há remédio nem cuidado que seja capaz de curar. O tempo é um patrão silencioso e que por vezes parece indiferente aos atos de seus subordinados, mas que em momento algum da vida, seja do primeiro choro ao deixar o ventre da mãe ao último suspiro num leito de hospital, jamais deixa que demos um único passo sem estar ao nosso lado marcando cada momento que se foi e esperando apenas um deslize nosso para nos punir. Ele nos dita o quão rápido temos que comer, limita nosso descanso e tira a espontaneidade de nosso agir, o tempo é um senhor de escravos invisível e atento como nenhum outro.
Se não bastasse a escravidão que nos é imposta, existem também aquelas que escolhemos viver. Somos escravos de um pequeno e fino retângulo de plástico que toma parte de todo nosso esforço para ele, um patrão pequeno e de feições amistosas que fazemos questão de manter sempre em nossas carteiras ou bolsas. Um patrão aparentemente inofensivo, mas que todo início de mês exige um pouco de nosso pensar somente para ele, que tira nosso sono e que nos lembra para quem trabalhamos.
Por outras vezes deixamos também que nos tornemos escravos de nossas próprias emoções, sendo dominados e totalmente controlados por elas. Escravizamos-nos à uma pessoa para qual direcionamos nosso amor e nos esquecemos de viver para nós mesmos, nos esquecemos de sermos os verdadeiros donos de nós para vivermos a mercê das emoções e do temperamento dessa pessoa. Limitamos nossa felicidade à dela, nossa alegria à dela, nosso bem estar ao dela, nossos sorrisos aos dela. Vendo isso tudo de uma forma mais ampla, limitamos nossas próprias vidas as dela, colocando um peso nas costas de tal pessoa maior que qualquer humano possa carregar, visto que nenhuma pessoa deve ser responsável pela felicidade de outra. Acabamos assim nos escravizando e também a pessoa que se ama.
Somos escravos da violência que nos prende atrás de grades em nossas próprias casas, somos escravos do nosso medo de arriscar, somos escravos daqueles que nos dizem em que acreditar, somos escravos de diversas forças invisíveis que passam sem serem notadas durante nossas vidas.
É dessa forma que funciona a escravidão moderna, astuta como jamais fora, sempre se escondendo por trás da máscara da falsa liberdade. No mundo em que vivemos hoje sempre haverá algo que nos dominará e não será uma figura clara como um senhor de barbas brancas e boas vestes sentado atrás de uma pesada mesa de madeira nos dizendo o que fazer, será uma força muitas vezes oculta que sempre manterá correntes e pesadas bolas de aço amarradas em nossos tornozelos.
No passado havia a clara distinção entre o dominado e o dominador, mas hoje somos todos iguais, todos acreditando na liberdade porém vivendo em escravidão.
Agora somos todos livres para pensar, para agir, para amar, para fazer tudo àquilo que cabe ao homem. A tão sonhada liberdade enfim chegou e o homem em seu imensurável brilhantismo usou-a para mais uma vez escravizar-se. Tornamo-nos todos apenas um, todos iguais, todos escravos do homem pelas invenções do homem.
Somos todos regidos pelos ponteiros incansáveis e impiedosos do relógio que sempre nos diz qual é a hora certa para tudo, das coisas mais triviais àquelas fora da rotina nada pode ser feito sem a permissão do relógio. As punições para quem desobedecê-lo podem não ser tão fisicamente dolorosas quanto cinqüenta chibatadas, mas podem trazer um dolo que não há remédio nem cuidado que seja capaz de curar. O tempo é um patrão silencioso e que por vezes parece indiferente aos atos de seus subordinados, mas que em momento algum da vida, seja do primeiro choro ao deixar o ventre da mãe ao último suspiro num leito de hospital, jamais deixa que demos um único passo sem estar ao nosso lado marcando cada momento que se foi e esperando apenas um deslize nosso para nos punir. Ele nos dita o quão rápido temos que comer, limita nosso descanso e tira a espontaneidade de nosso agir, o tempo é um senhor de escravos invisível e atento como nenhum outro.
Se não bastasse a escravidão que nos é imposta, existem também aquelas que escolhemos viver. Somos escravos de um pequeno e fino retângulo de plástico que toma parte de todo nosso esforço para ele, um patrão pequeno e de feições amistosas que fazemos questão de manter sempre em nossas carteiras ou bolsas. Um patrão aparentemente inofensivo, mas que todo início de mês exige um pouco de nosso pensar somente para ele, que tira nosso sono e que nos lembra para quem trabalhamos.
Por outras vezes deixamos também que nos tornemos escravos de nossas próprias emoções, sendo dominados e totalmente controlados por elas. Escravizamos-nos à uma pessoa para qual direcionamos nosso amor e nos esquecemos de viver para nós mesmos, nos esquecemos de sermos os verdadeiros donos de nós para vivermos a mercê das emoções e do temperamento dessa pessoa. Limitamos nossa felicidade à dela, nossa alegria à dela, nosso bem estar ao dela, nossos sorrisos aos dela. Vendo isso tudo de uma forma mais ampla, limitamos nossas próprias vidas as dela, colocando um peso nas costas de tal pessoa maior que qualquer humano possa carregar, visto que nenhuma pessoa deve ser responsável pela felicidade de outra. Acabamos assim nos escravizando e também a pessoa que se ama.
Somos escravos da violência que nos prende atrás de grades em nossas próprias casas, somos escravos do nosso medo de arriscar, somos escravos daqueles que nos dizem em que acreditar, somos escravos de diversas forças invisíveis que passam sem serem notadas durante nossas vidas.
É dessa forma que funciona a escravidão moderna, astuta como jamais fora, sempre se escondendo por trás da máscara da falsa liberdade. No mundo em que vivemos hoje sempre haverá algo que nos dominará e não será uma figura clara como um senhor de barbas brancas e boas vestes sentado atrás de uma pesada mesa de madeira nos dizendo o que fazer, será uma força muitas vezes oculta que sempre manterá correntes e pesadas bolas de aço amarradas em nossos tornozelos.
No passado havia a clara distinção entre o dominado e o dominador, mas hoje somos todos iguais, todos acreditando na liberdade porém vivendo em escravidão.
Em um mundo ideal
Em um mundo ideal você e eu ainda estaríamos juntos.
Cada fim de beijo encheria nossos corações com a vontade de mais um.
Cada abraço não seria apenas uma formalidade, mas sim uma forma de dizer "senti muito sua falta, não me abandone mais".
Em um mundo ideal eu compraria salsichas para fazermos cachorros-quentes aos sábados.
Em uma noite de inverno você deitaria no meu colo vestindo um casaco de lã listrado e assistiríamos um filme romântico comendo pipoca enquanto eu te faria cafuné.
Em um mundo ideal todo momento significaria algo.
Em um mundo ideal eu seria seu herói.
Você sempre me amaria de manhã.
Sua boca sentiria falta da minha.
Numa sala de cinema você passaria duas horas com seu corpo junto ao meu.
Você responderia cada "eu te amo" meu com um olhar de quem diz "que lindo".
Em um mundo ideal sonharíamos juntos cada vez que passássemos ao lado de uma loja de roupas infantis.
Em um mundo ideal você sempre me trataria como se nunca mais fosse me ver.
Em um mundo ideal sempre que eu estivesse de costas você tamparia meus olhos e perguntaria "quem é?" e ao eu adivinhar você me congratularia com um beijo.
Em um mundo ideal todo dia seria meu aniversário.
Eu sempre teria dinheiro dinheiro para comprar tudo que você precisasse.
Em um mundo ideal seu amor por mim jamais acabaria.
Cada fim de beijo encheria nossos corações com a vontade de mais um.
Cada abraço não seria apenas uma formalidade, mas sim uma forma de dizer "senti muito sua falta, não me abandone mais".
Em um mundo ideal eu compraria salsichas para fazermos cachorros-quentes aos sábados.
Em uma noite de inverno você deitaria no meu colo vestindo um casaco de lã listrado e assistiríamos um filme romântico comendo pipoca enquanto eu te faria cafuné.
Em um mundo ideal todo momento significaria algo.
Em um mundo ideal eu seria seu herói.
Você sempre me amaria de manhã.
Sua boca sentiria falta da minha.
Numa sala de cinema você passaria duas horas com seu corpo junto ao meu.
Você responderia cada "eu te amo" meu com um olhar de quem diz "que lindo".
Em um mundo ideal sonharíamos juntos cada vez que passássemos ao lado de uma loja de roupas infantis.
Em um mundo ideal você sempre me trataria como se nunca mais fosse me ver.
Em um mundo ideal sempre que eu estivesse de costas você tamparia meus olhos e perguntaria "quem é?" e ao eu adivinhar você me congratularia com um beijo.
Em um mundo ideal todo dia seria meu aniversário.
Eu sempre teria dinheiro dinheiro para comprar tudo que você precisasse.
Em um mundo ideal seu amor por mim jamais acabaria.
sábado, 4 de junho de 2011
A alegria juvenil
Ouçam quantos risos, quantas falas altas; vejam quantas palavras acompanhadas por gestos. Nunca pensei que fora preciso um movimento de mão para cada uma delas.
A juventude se faz ver, ouvir e sentir, tem um comportamento que se difere de todo resto.
Nos jovens o riso rola solto, a vida é eterna e o tempo é uma mera convenção que à eles não se aplica. Ser jovem é ser aquilo que se é.
Em outro lado dessa mesma linha temos o adulto, cheio de polidez e recato. Tudo no adulto é ponderado, as conversas, os risos, as expressões, alguns são tão educados que por vezes parecem desprovidos de sentimentos.
Para um observador de fora tal postura de neutralidade poderia ser sim atribuída à educação, mas para um ser da raça é notável a razão de que tal comportamento acontece devido às experiências de vida acumuladas nas costas de um adulto. Se olharmos para o passado teremos de fato esta confirmação. Nos nossos quinze anos de idade não precisávamos nos preocupar com IPVA, IPTU, prestações de casa, carros, comida para fazer, filhos para criar, deveres do trabalho, dívidas com cartão de crédito, nada. Aos quinze anos a única preocupação era com a prova de física para amanhã que só fomos lembrar hoje.
A juventude ri e fala alto não porque lhe falta educação, mas sim porque lhe farta a alegria. Aos jovens não se é permitido sofrer de amor, ver um amigo ser levado pelas mãos de Deus, ter seus sonhos roubados, ouvir palavras duras, só o que se permite aos jovens é sorrir. Talvez aos jovens nada disso seja permitido porque a própria vida ainda seja inocente assim como eles.
Mas então se passam os anos e com eles vem a fase adulta, que deixa nos rostos rugas não apenas por causa do tempo que sei foi, mas também por tudo aquilo que se perdeu. Cada ruga conta em si a história de um momento de tristeza ou de preocupação, elas são um relato vivo, testemunhas oculares de tudo aquilo que aquela alma sofreu. Por vezes essas almas viram seus heróis partirem, viram amores eternos morrerem mesmo antes do murchar das flores, viram natais sem Noel, viram crenças sólidas como rochas serem destruídas como um castelo de cartas, viram que a vida não era o que antes se pensou ser. Para muitos adultos a vida é agora apenas um exercício contínuo de conformidade, pois seus sonhos se perderam ou foram esquecidos em um lugar entre o ensino médio e a faculdade e já não há mais tempo nem forças para procurá-los. Para eles agora só o que resta e se conformarem com a rotina, com o emprego, com o preço da gasolina e com a conta de telefone que esse mês veio mais baixa.
Para o adulto o jovem ri e fala alto porque é mal-educado, mas na verdade o problema está na alegria do adulto, que outrora fora muito eloqüente, mas que agora não passa de um simples sussurrar.
A juventude se faz ver, ouvir e sentir, tem um comportamento que se difere de todo resto.
Nos jovens o riso rola solto, a vida é eterna e o tempo é uma mera convenção que à eles não se aplica. Ser jovem é ser aquilo que se é.
Em outro lado dessa mesma linha temos o adulto, cheio de polidez e recato. Tudo no adulto é ponderado, as conversas, os risos, as expressões, alguns são tão educados que por vezes parecem desprovidos de sentimentos.
Para um observador de fora tal postura de neutralidade poderia ser sim atribuída à educação, mas para um ser da raça é notável a razão de que tal comportamento acontece devido às experiências de vida acumuladas nas costas de um adulto. Se olharmos para o passado teremos de fato esta confirmação. Nos nossos quinze anos de idade não precisávamos nos preocupar com IPVA, IPTU, prestações de casa, carros, comida para fazer, filhos para criar, deveres do trabalho, dívidas com cartão de crédito, nada. Aos quinze anos a única preocupação era com a prova de física para amanhã que só fomos lembrar hoje.
A juventude ri e fala alto não porque lhe falta educação, mas sim porque lhe farta a alegria. Aos jovens não se é permitido sofrer de amor, ver um amigo ser levado pelas mãos de Deus, ter seus sonhos roubados, ouvir palavras duras, só o que se permite aos jovens é sorrir. Talvez aos jovens nada disso seja permitido porque a própria vida ainda seja inocente assim como eles.
Mas então se passam os anos e com eles vem a fase adulta, que deixa nos rostos rugas não apenas por causa do tempo que sei foi, mas também por tudo aquilo que se perdeu. Cada ruga conta em si a história de um momento de tristeza ou de preocupação, elas são um relato vivo, testemunhas oculares de tudo aquilo que aquela alma sofreu. Por vezes essas almas viram seus heróis partirem, viram amores eternos morrerem mesmo antes do murchar das flores, viram natais sem Noel, viram crenças sólidas como rochas serem destruídas como um castelo de cartas, viram que a vida não era o que antes se pensou ser. Para muitos adultos a vida é agora apenas um exercício contínuo de conformidade, pois seus sonhos se perderam ou foram esquecidos em um lugar entre o ensino médio e a faculdade e já não há mais tempo nem forças para procurá-los. Para eles agora só o que resta e se conformarem com a rotina, com o emprego, com o preço da gasolina e com a conta de telefone que esse mês veio mais baixa.
Para o adulto o jovem ri e fala alto porque é mal-educado, mas na verdade o problema está na alegria do adulto, que outrora fora muito eloqüente, mas que agora não passa de um simples sussurrar.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
A sentença de Ranier
Varuk era o único filho de Universo, o deus de todos os deuses. Varuk fora criado para cuidar de todos os seres viventes de todos os planetas, enquanto que Universo era responsável pelos planetas, estrelas e todo corpo celeste.
Varuk possuía vários ajudantes chamados Azuis e cada um era responsável por um sentimento; alegria, felicidade, saudade, satisfação, prazer, entre outros. Dentre todos os Azuis, havia um que Varuk mais achava especial e por isso o tinha em posição primordial em relação aos outros, seu nome era Ranier e ele era o grande Azul do amor.
Toda noite Ranier visitava os lares de todos os seres de todos os planetas e enchia o coração deles com amor, nas noites seguintes ele mais uma vez os visitava para certificar-se de que nada havia se perdido e que o amor ainda estava lá.
Certa noite ao visitar o planeta Terra Ranier se deparou no quarto de uma bela jovem e encantou-se por ela. Ela tinha 18 anos, pele morena, tinha cabelos curtos cacheados e era linda no mais puro sentido de sua existência. Ranier de imediato se apaixonou por ela e por isso foi incapaz de colocar no coração da jovem o amor que deveria. Ele então voltou ao Céu e decidiu que na noite seguinte voltaria ao quarto da menina e plantaria no coração dela amor por ele próprio, sendo assim na noite seguinte ele o fez e nada disse para Varuk.
Para encontrar sua amada durante o dia Ranier precisava deixar suas asas no Céu e assumir uma imagem mortal para ser semelhante a jovem, para isso ele contava com ajuda de outros Azuis para levá-lo e buscá-lo na Terra.
Tudo corria bem e Ranier e a moça já romanceavam por dois anos, até que um dia Varuk precisou de todos seus Azuis em emergência e no frenesi do momento Ranier foi esquecido na Terra. Durante a reuniao Varuk percebeu a ausência de Ranier e questionou o Azul da verdade sobre o que estava acontecendo e este contou tudo sobre o Azul do amor.
Ao saber de toda historia Varuk em muito desagradou-se e pediu que algum Azul trouxesse Ranier de volta ao Céu. Ao chegar lá, frente a frente com Varuk, que mostrava em sua face todo seu descontentamento e ira, Ranier foi condenado a passar o resto de sua existência amando a jovem como sua única e verdadeiro amor, mas em jamais poder receber o amor dela. Foi condenado também a falar e escrever sobre o amor pelos quatro cantos do mundo, deixando assim de ser o Azul do amor e tornando-se o Azul da poesia.
Triste e apaixonado, Ranier por vezes não suporta a dor que carrega em seu peito e então visita lares de homens e mulheres e deixa com eles partes de sua condenação na esperança de pouco a pouco se ver livre de sua pena. É dessa forma que nascem os poetas, mortais que carregam em si um pouco da dor de Ranier, condenados a escreverem e viverem em amor, mas quase nunca serem presenteados com ele.
Varuk possuía vários ajudantes chamados Azuis e cada um era responsável por um sentimento; alegria, felicidade, saudade, satisfação, prazer, entre outros. Dentre todos os Azuis, havia um que Varuk mais achava especial e por isso o tinha em posição primordial em relação aos outros, seu nome era Ranier e ele era o grande Azul do amor.
Toda noite Ranier visitava os lares de todos os seres de todos os planetas e enchia o coração deles com amor, nas noites seguintes ele mais uma vez os visitava para certificar-se de que nada havia se perdido e que o amor ainda estava lá.
Certa noite ao visitar o planeta Terra Ranier se deparou no quarto de uma bela jovem e encantou-se por ela. Ela tinha 18 anos, pele morena, tinha cabelos curtos cacheados e era linda no mais puro sentido de sua existência. Ranier de imediato se apaixonou por ela e por isso foi incapaz de colocar no coração da jovem o amor que deveria. Ele então voltou ao Céu e decidiu que na noite seguinte voltaria ao quarto da menina e plantaria no coração dela amor por ele próprio, sendo assim na noite seguinte ele o fez e nada disse para Varuk.
Para encontrar sua amada durante o dia Ranier precisava deixar suas asas no Céu e assumir uma imagem mortal para ser semelhante a jovem, para isso ele contava com ajuda de outros Azuis para levá-lo e buscá-lo na Terra.
Tudo corria bem e Ranier e a moça já romanceavam por dois anos, até que um dia Varuk precisou de todos seus Azuis em emergência e no frenesi do momento Ranier foi esquecido na Terra. Durante a reuniao Varuk percebeu a ausência de Ranier e questionou o Azul da verdade sobre o que estava acontecendo e este contou tudo sobre o Azul do amor.
Ao saber de toda historia Varuk em muito desagradou-se e pediu que algum Azul trouxesse Ranier de volta ao Céu. Ao chegar lá, frente a frente com Varuk, que mostrava em sua face todo seu descontentamento e ira, Ranier foi condenado a passar o resto de sua existência amando a jovem como sua única e verdadeiro amor, mas em jamais poder receber o amor dela. Foi condenado também a falar e escrever sobre o amor pelos quatro cantos do mundo, deixando assim de ser o Azul do amor e tornando-se o Azul da poesia.
Triste e apaixonado, Ranier por vezes não suporta a dor que carrega em seu peito e então visita lares de homens e mulheres e deixa com eles partes de sua condenação na esperança de pouco a pouco se ver livre de sua pena. É dessa forma que nascem os poetas, mortais que carregam em si um pouco da dor de Ranier, condenados a escreverem e viverem em amor, mas quase nunca serem presenteados com ele.