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quinta-feira, 10 de março de 2011

O jardim das rosas cor-de-rosa

Pedro era um rapazinho de apenas quatorze anos que vivia seu primeiro amor. Ele estava apaixonado por uma menina chamada Naiara, uma bela menina de cabelos negros e olhos verdes que ele conhecera na escola. Ela tinha treze anos e para ela Pedro também era seu primeiro amor. O jovem rapaz era um dos melhores alunos de sua classe e tinha um futuro promissor esperando por ele.

Certo dia ao voltar da escola Pedro teve que assar na casa de sua avó para fazer um favor para sua mãe, ao chegar lá ele conversou um pouco como sua avó e perguntou para ela porque o amor sendo um sentimento tão belo e tão importante na vida das pessoas ainda assim morria. A avó do menino então perguntou se ele acreditava nos sonhos e ele respondeu que sim, então ela disse que a resposta para aquela pergunta dele seria vista em um sonho que ele teria. O menino deixou a casa de sua avó e voltou para sua casa, um percurso curto que levou no máximo dez minutos. Daquela noite em diante o menino sempre ia para cama com a esperança de que teria o sonho falado por sua avó. Os dias foram se passando e com ele vinham também as noites, até que quatorze dias depois da vista a casa de sua avó, no mesmo dia em que ele e Naiara completaram três meses de namoro juntos, o menino ao adormecer teve um sonho muito diferente.

De repente ele se viu em um campo imenso, todo chão era tomado por um lindo e perfeito gramado, a sua direita havia uma grande casa e ao lado direito da casa um vasto jardim de rosas cor-de-rosa. Pedro começou a caminhar em direção ao jardim e cada vez que chegava mais perto dele ele se impressionava com o seu tamanho e com o fato de algumas rosas estarem lindas e outras estarem apenas na forma de botões, ao mesmo tempo outras estavam praticamente mortas e secas. Ao chegar bem próximo ao jardim Pedro ficou estupefato com o tamanho dele. Havia fileiras de rosas que se estendiam para além do horizonte, do mesmo modo havia tantas fileiras que ao olhar para sua esquerda o jovem rapaz não conseguia ver um fim, era como se ele estivesse em meio a um oceano de rosas. O aroma das rosas encantava o menino e este encanto fez com que ele começasse a andar por dentro do jardim, tocando com suas mãos algumas das rosas ele podia ver e sentir claramente a diferença entre elas. Algumas eram vívidas e lindas, tinham pétalas largas e exalavam um aroma maravilhoso; por outro lado algumas estavam secas e outras eram apenas pequenos botões que esperavam sua vez de desabrochar. O jovem rapaz não entendia como era possível em uma mesma estação algumas rosas já estarem mortas ao passo que outras nem haviam desabrochado. Ele então sentou na terra entre duas fileiras onde podia ver claramente uma rosa linda, uma seca e uma ainda botão. Ele começou a tocá-las e se perguntou por que elas eram daquela forma. Após cerca de um minuto um senhor de barba e vestes brancas tocou o ombro esquerdo de Pedro e sentou-se ao lado dele, os dois então naquele momento começaram a conversar:

-Olá meu senhor! Quem é você? Você mora aqui?
-Olá Pedro! Não interessa saber quem sou, não é por essa razão que está aqui; e sim, eu moro aqui. Moro naquela casa que está a esquerda desse jardim.
-É o senhor quem toma conta desse jardim?
-Não, eu apenas planto as sementes, mas cada um cuida de sua própria rosa.
-Como assim cada um? Eu ainda não vi ninguém aqui, só tem eu aqui.
-Você não viu porque estava impressionado com a grandeza do jardim, mas fique de pé e olhe ao seu redor. Você irá ver que existem algumas pessoas aqui cuidando de suas rosas.

O menino então se colocou de pé e ao olhar para todos os lados viu que de fato algumas pessoas estavam ali cuidando de suas rosas, ele pode ver velhas senhoras, alguns senhores também, até mesmo algumas crianças e também muitas mulheres que pareciam mães. Pedro então se sentou mais uma vez ao lado esquerdo do senhor de barba branca e eles continuaram a conversar:

-É verdade, agora sim posso ver. Existem muitas pessoas aqui, mas eu vejo muito mais rosas do que pessoas.
-Eu sei, é triste, mas é a verdade. Posso te levar para um passeio, Pedro?
-Claro.
-Está certo, irei te levar para outro jardim, não tão belo como esse, mas muito populoso, você irá ver com seus próprios olhos. Não é muito longe daqui, na verdade é o jardim do meu vizinho.

O senhor de barba branca pegou Pedro pela mão e pediu que ele fechasse seus olhos, o senhor então contou somente até um e pediu que o jovem rapaz abrisse seus olhos novamente. Ao abrir, eles estavam em outro jardim, o jardim dos copos vazios.

-Nossa, senhor que jardim é esse? Porque tantos copos aqui? Não sabia que era possível plantar copos.
-De fato não é possível se plantar copos, mas as pessoas acreditam tanto que seja possível que os copos de fato nascem.
-Por favor, explique-me. Eu vejo tantas pessoas aqui, muito mais que no jardim das rosas, sendo que aqui o aroma não é o mesmo de lá, e eu vejo pessoas colocando coisas dentro dos copos, o que elas colocam?
-De fato esse jardim é muito procurado, você pode olhar ao seu redor e verá que para cada copo existe uma pessoa e vou te contar algo ainda mais interessante. Se você somar o número de pessoas daqui mais o número de pessoas em meu jardim você terá o número exato de rosas que tenho em meu jardim. Cada pessoa aqui coloca em seu copo algum desejo passageiro, alguma vontade vazia, algo que eles pensam que lhes trará felicidade. Mas pare e olhe os copos ao seu redor, você vê algo dentro deles?
-Não, não vejo nada. Onde está tudo que eles colocam?
-É por isso que esse jardim é chamado de jardim dos copos vazios, pois os desejos que eles aqui colocam são tão vazios quanto os próprios copos onde os colocam. Mas sente-se e olhe para o chão ao seu redor. Verá que todo desejo se encontra aqui, no chão.

O jovem rapaz olhou e viu que de fato no chão de tudo podia se encontrar, todo tipo de desejo lá estava. Alguns sujos, empoeirados, mas estavam todos lá largados no chão.
O senhor então pegou a mão de Pedro de novo e disse:

-Filho, feche os olhos, esse lugar não é para você, vou te levar de volta para meu jardim.

Pedro fechou os olhos e ao abri-los mais uma vez ele viu que estava no jardim das rosas cor-de-rosa novamente. O senhor de barba branca sentou-se com ele no chão mais uma vez e começou a explicá-lo:

-Este jardim é tão imenso porque existe uma rosa para cada alma que habita a terra e essas rosas são nada menos que o amor que cada um tem dentro de seu coração. Como você pode ver, algumas rosas estão lindas enquanto outras estão murchas, secas, ou ainda são botões. As murchas e secas são exatamente as rosas daquelas pessoas que estão no jardim dos copos vazios, ou então rosas de pessoas que vem aqui, mas não sabem cuidar bem delas.
-Como faço para cuidar bem de minha rosa?
-Não é uma tarefa complicada. Primeiro você deve acreditar que sua rosa existe, esse é o fator principal, caso contrário você jamais irá encontrá-la na imensidão desse jardim. Depois, você precisa dar a ela seu tempo, sua atenção, você precisa conversar com ela, ouvir o que ela tem para te dizer. Você precisa ser paciente com ela, precisa estar com ela sempre, precisa tratá-la bem e mostrar para ela que ela e importante em sua vida. Dessa forma sua rosa ficará cada vez mais bela.
-Mas senhor, e essas rosas que estão secas, elas não podem mais voltar a ficarem belas?
-Pedro, você vê aquele relógio no alto do céu?
-Sim, eu vejo. Mas porque ele só tem um ponteiro que aponta para o número zero?
-Porque nunca é cedo nem tarde demais para cuidar de uma rosa. Por mais que elas pareçam secas ou mortas, elas estão apenas tristes, mas ainda querem viver. Agora já é quase hora de você voltar para casa, pois em breve mais um dia irá nascer, mas antes quero te mostrar algo. Acompanhe-me.

O senhor de barba branca pegou Pedro pela mão e caminhou com ele alguns metros até que parou perto de uma rosa e começou mais uma vez a falar com o jovem moço.

-Olhe Pedro, consegue ver essa rosa?
-Nossa, consigo sim, ela é linda!
-Meu amigo, esta é a sua rosa. Há tempos ela era apenas um botão frágil e singelo, mas você Pedro, é um visitante que está em meu jardim todos os dias. Sempre posso vê-lo cuidando de sua rosa e isso muito me agrada.
-Nossa, mas eu não me lembro de jamais ter estado aqui.
-Mas você já esteve, muitas vezes, você apenas não se lembra. Mas fique tranqüilo, pois aqueles que visitam meu jardim não se lembram de suas visitas, este aqui é outro mundo, então é normal que isso aconteça. Apenas continue sendo este rapaz amoroso com sua família, com sua namorada, com seus amigos e como todo o resto, dessa forma sua flor será tão bela como tantas outras que você vê aqui. Mesmo que um dia você se sinta ferido, triste ou magoado, se você quiser chorar, derrame suas lágrimas aqui neste jardim e sua rosa por estar linda e forte irá curá-lo. Agora me de sua mão e feche seus olhos novamente.

O menino fechou os olhos e após alguns instantes ouviu um som eletrônico que tocava perto de onde estava, era seu celular o avisando que estava na hora de acordar para ir à escola. O menino acordou fascinado pelo sonho que teve e passou o dia todo se lembrando dele e ao sair da escola ele avisou sua mãe que iria passar na casa da avó dele. Ao chegar lá, sua avó pode ver que ele tinha um brilho diferente no olhar e parecia extasiado, ela então o perguntou:

-Porque esta tão feliz meu filho, aconteceu algo?
-Sim vovó, eu tive o sozinho que você me disse!
-Não é lindo o jardim?
-Sim, é maravilhoso! Mas como você sabia da existência dele?
-Da mesma forma que você soube. Eu o vi através de um sonho e desde então jamais deixei de visitá-lo.
-A senhora também viu o jardim dos copos?
-Vi sim, conheço bem aquele jardim, há muito tempo havia um copo lá com meu nome, mas agora não mais há. Pelo contrário, agora existe uma belíssima rosa que é minha e faço questão de cuidar muito bem dela.

Após a conversa com sua avó Pedro voltou para casa leve e feliz. Com o tempo ele se esqueceu do sonho, mas a mesma rosa que havia no jardim também estava plantada no coração de Pedro e esta fez com que ele jamais deixasse de sentir o mais belo de todos os sentimentos e por toda sua vida jamais houve um copo com o nome de Pedro escrito nele no jardim dos copos vazios.

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