Rio & Cultura

www.rioecultura.com.br : encontre sua arte aqui

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Full time bitch



Uma distinta dama da sociedade carioca se arruma para participar de um evento social em uma noite de sábado, seu marido, que já está arrumado, a espera enquanto ela se adorna e se perfuma com o que de mais caro o dinheiro pode comprar. Ela nasceu em uma família que já tinha posses e viu sua boa vida ficar ainda melhor quando conheceu seu marido, um grande empresário de uma multinacional.
Após algumas horas se arrumando os dois saem de sua casa na Barra da Tijuca e dirigem-se para a festa que acontecerá no Leme, ela vai ao banco do carona enquanto seu marido conduz a mais nova aquisição da família, uma BMW série 5. É aproximadamente oito e trinta da noite e durante o caminho ao Leme a bela dama vê pela janela do BMW de seu marido uma prostituta na calçada, uma cena corriqueira, mas que por alguma razão desconhecida acaba ficando na mente daquela senhora.
Os dois chegam ao Leme e vão em direção à mesa onde um grupo de amigos seus já os estava esperando, ficam ali conversando por alguns minutos até que os homens pedem licença para as damas e vão até o bar do evento beber um pouco. Nessa hora a dama que viu a prostituta começa uma conversa com suas amigas:

-Vocês já notaram como vem aumentando o número de prostituas no Rio de Janeiro?
-Olha, realmente vem crescendo, mas eu acho que antes era pior, hoje a gente quase não vê.
-Olhem, pois eu vi. Vindo para cá vi uma fazendo ponto, numa hora dessas.
-É assim mesmo, o Rio de Janeiro está cheio delas.
-Sabe o que eu acho? Se eu fosse política eu criaria uma lei para tornar a prostituição um crime. Onde já se viu legalizar isso? Isso é horrível!
-Concordo com você menina, essas mulheres só enfeiam nossa cidade.
-Vender o corpo por dinheiro, eu jamais faria isso!

Passados mais alguns minutos, a mesma senhora que começou a conversa sobre prostituição decide iniciar mais um assunto altamente filosófico.

-Minha filha está em Londres agora fazenda intercâmbio, aquela cidade é tão linda! Paris, Veneza e Madrid também são bonitas, mas nenhuma se compara a Londres.
-Acho Londres bonita sim, mas para mim a mais encantadora é Roma, nunca esquecerei aquele lugar! Mas deixemos nossas impressões de lado e vamos continuar o assunto, sua filha ficará em Londres por quanto tempo?
-Ela irá passar um ano em Londres, já disse para ela arranjar um namorado rico por lá, homem sem dinheiro não é homem!
-Ah amiga, só você mesmo! – disse sua amiga seguida por uma risada
-Mas é verdade. Veja meu exemplo, tenho tudo que preciso, minhas jóias, minhas roupas, meus carros, sempre que quero posso comprar um Prada, uma Louis Vuitton, um Dolce and Gabbana, isso é maravilhoso. Meu marido é perfeito, ele é o homem que sempre sonhei. Já disse para minha filha que essa historinha de amor que passa na televisão...hum...é tudo mentira, o amor não é esse sentimento maravilhoso que brota de lugar algum, ele acontece quando encontramos uma pessoa que possa nos dar aquilo que precisamos. Para mim não existe amor se não houver dinheiro.
-Eu gostaria de discordar de você, mas é verdade. Se meu marido também não tivesse dinheiro minha vida seria tão chata, é como diz aquele ditado que “quando o dinheiro sai pela porta o amor sai pela janela”.
-É verdade, você entendeu tudo. – completou a senhora com risos.

A festa acabou, todos os convidados voltaram para casa e a senhora que tanto conversou na festa foi para cama com seu marido, tiveram uma noite de sexo regada com vinhos caros em uma cama cujo preço poderia comprar metade do enxoval de um casal recém noivado.
A pergunta que fica no ar é a seguinte: será que prostituas são realmente só aquelas que trabalham em night clubs, boites ou em puteros mesmo ou existem muitas outras mais que vivem por trás das cortinas de seda da sociedade? Paremos e reflitamos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Gutrid



O jovem Gutrid

Gutrid era o filho mais novo de Lael, ele tinha um irmão gêmeo chamado Egos e um irmão que era oito anos mais velho chamado Ranzao. Ambos cresceram na mesma casa e Gutrid sempre havia admirado seu irmão mais velho, que era um grande soldado do rei Labur, rei que controlava o reinado de Luxur. O rei Labur sempre havia admirado seu soldado Ranzao e o considerava um dos melhores no fronte de batalha, era destemido, inteligente, sábio e forte, grandes qualidades para um soldado. Em casa Gutrid tentava imitar os movimentos de seu irmão, nas ruas do reino brincava de luta com outros rapazes, todos sonhando em ser soldado do rei Labur.
Um dia Labur decidiu fazer a coleta de impostos junto com alguns de seus soldados para poder ter um contato mais próximo com seu povo e entre eles estava Ranzao. Ao passar por uma das diversas vielas do reino Labur pediu para que seu cocheiro parasse, pois uma luta entre alguns rapazes havia o chamado atenção. Ele assistiu a luta dos dois rapazes e ao final dela perguntou para Ranzao.

-Você mora aqui não e Ranzao? Conhece aquele rapaz magro?
-Sim majestade, aquele é meu irmão mais novo, Gutrid.
-Gostei da forma como ele luta, farei dele um soldado meu. Pegue-o e trago-o conosco.
-Sim majestade, assim o farei.

Gutrid vira soldado

Gutrid ficou surpreso quando seu irmão desceu da carruagem e foi em direção a ele, ele perguntou para Ranzao o que ele fazia ali e seu irmão o disse que o rei havia gostado de sua luta e gostaria de levá-lo com ele. Gutrid ficou muito feliz e subiu na carruagem junto com seu irmão mais velho, os dois cumprimentaram o rei e tomaram seus lugares na carruagem. Durante o caminho Gutrid tomou coragem e dirigiu uma pergunta para Labur.

-Majestade, porque me escolheu para ser um de seus soldados?
-Porque vi que você é habilidoso e inseguro.
-Inseguro? Ser inseguro é algo bom para um soldado?
-Às vezes sim, se não fosse pela sua insegurança seu inimigo o teria aniquilado, mas por hesitar você deu um passo para trás e isso fez com que você não perdesse a luta. As vezes a insegurança e a melhor amiga de um bom soldado".

Gutrid ficou feliz com as palavras do rei e também saltou de alegria por dentro, pois ser um soldado era o seu maior sonho.
Ao saber que Gutrid havia sido levado pelo rei Labur, Egos pegou um cavalo e seguiu ao encontro de seu irmão rumando para o vilarejo mais próximo do reinado de Luxur, ele cresceu junto de Gutrid e não iria largá-lo agora.
Depois de um dia de viagem Gutrid, Labur e Ranzao chegaram ao castelo do rei e lá dentro Gutrid começou o treinamento para se tornar um soldado real sempre sob os olhares atentos de seu irmão mais velho Ranzao. Egos chegou um dia depois da chegada de seus irmãos e foi logo ao encontro de Gutrid.

-Ola Gutrid! Parabéns, fiquei sabendo que agora você e um soldado real.
-Não ainda meu irmão, estou apenas em treinamento, mas em breve serei um soldado tão bom quanto meu irmão."
-Você de fato é muito bom e em breve terá seu valor reconhecido.

A primeira batalha

Os meses foram passando e Gutrid foi ficando cada vez melhor na arte da luta, sua principal característica era a sua cautela, ele só atacava se estivesse certo de que poderia acertar seu inimigo, não era do tipo de soldado valente que quer destruir todos, mas era eficiente e por isso raramente perdia uma batalha. Após cinco meses de treinamento uma parte do reinado de Luxur foi invadido por bárbaros de outra região e o rei Labur viu-se obrigado a mandar seu exército para o campo de batalha, Ranzão iria liderar um dos grupos de soldados e neste grupo estava seu irmão Gutrid. Preocupado com o primeiro combate real de seu irmão Ranzão foi até Gutrid e o disse.

-Gutrid, tenha cuidado, pois agora não é mais um treinamento, eles irão querer te matar, seja sempre cuidadoso como sempre foi - disse Ranzão.
-Certo irmão, tomarei todo o cuidado possível.

Ranzão sempre se preocupou com seus irmãos mais novos, mas dava um pouco mais de atenção para Gutrid, pois Egos tinha certo gênio ruim em si e tinha certa tendência para fazer coisas erradas. Ranzão foi então até o melhor ferreiro do reino e pediu para que ele fizesse para seu irmão Gutrid um belo e resistente escudo assim como uma espada leve, forte e afiada. Também pediu para o ferreiro que fizesse um leve e forte capacete e uma roupa de malha de ferro que pudesse protegê-lo dos golpes desferidos pelos inimigos. Após alguns dias o ferreiro entregou as peças para Ranzão e este em seu cavalo foi ao encontro de Gutrid.

-Irmão, olhe o que te trouxe, faça bom uso de tudo que está nesse saco.
-Obrigado irmão, são as armas mais lindas que já vi, espero não te desapontar no fronte.
-Quer não me desapontar? Então me faça o favor de voltar de lá vivo.

O exército do rei Labur passou três dias caminhando até que enfim chegaram ao lugar onde estavam os bárbaros, eles passaram a noite acampados em um lugar um pouco distante de onde os bárbaros se encontravam para no dia seguinte começarem a batalha para expulsar os invasores de lá. Assim que o dia raiou os soldados do rei levantaram-se e após chegar a um lamacento lugar colocaram suas aramas em punho e começaram a lutar contras os bárbaros. Foi uma batalha sangrenta, muitos cavalos se feriram, alguns soldados morreram, outros foram gravemente feridos, perderam membros, mas no fim da batalha muitos bárbaros haviam sido mortos e os que sobreviveram voltaram para sua terra natal. Gutrid havia se saído bem em sua primeira batalha, matou dez inimigos e feriu outros mais, aquilo chamou em muito a atenção de Ranzão que após voltar para o castelo reportou o fato para Labur, o rei então ficou impressionado com o feito do jovem soldado e então o condecorou com uma estrela de bravura. Ao voltar para as imediações do castelo, Gutrid recebeu a visita de seu irmão gêmeo.

-Você foi muito bem na sua primeira batalha matando dez e ferindo tantos outros, imagine daqui para frente como será, você será o melhor soldado do rei.
-Pare com isso Egos, os bárbaros não eram assim tão bem preparados, não era difícil acabar com eles.
-Ainda assim você o fez quando muitos outros soldados morreram ou se deixaram ferir por aquele grupo de mortos fome, você Gutrid foi o melhor no fronte!

O domínio por Egos

As palavras de Egos ficaram vagando pela mente de Gutrid por dias, ele sabia que os bárbaros não possuíam o mesmo armamento que ele, mas também sabia que matar dez em sua primeira batalha era um feito memorável e isso começou a tomar conta do rapaz.
Várias outras batalhas se seguiram seja por conquista de território ou por defender os limites das terras do rei e em todas elas Gutrid se mostrou muito bem no fronte, sempre se destacando no campo de batalha. Um dia um grupo de rebeldes revoltados com a tomada de seu território alguns anos atrás decidiu se juntar com outros ex habitantes de territórios tomados pelo rei Labur e formaram um numeroso exército de rebeldes, este exército invadiu o território de Labur e iniciou uma verdadeira barbárie nos vilarejos que ali exestiam. Labur em pouco tempo recebeu relatos do que estava acontecendo ali e destacou seu exército para mais essa missão, contudo antes que as tropas deixassem o reino de Luxur Ranzão foi visitar Gutrid em seu casebre e lá o encontrou junto de seu irmão gêmeo Egos.

-Olá Gutrid, posso entrar?
-É claro irmão, mas a que devo sua visita?
-Vim conversar com você meu irmão. Tenho notado nas últimas batalhas que você já não tem sido mais o mesmo, o vejo cada vez se arriscando mais, já não é mais o soldado cauteloso que costumava ser no passado, tenho medo que acabe se machucando e até mesmo morrendo. Peço que tenha cuidado e não subestime os rebeldes, eles são violentos e perigosos.
-Não precisa se preocupar comigo meu irmão, ainda sou o mesmo de sempre, apenas estou aprendendo cada vez como usar as armas e meu corpo no fronte de batalha, é apenas isso.
-Não é isso que vejo, mas se você me diz acredito em você, peço apenas que tenha mais cuidado, só isso.

Egos esperou Ranzao deixar o casebre de Gutrid e então chegou mais perto de seu irmão e começou uma conversa com ele.

-Não de ouvidos para o que Ranzao diz, ele e um fraco que até hoje não passa de um simples líder de pelotão, não chegou nem mesmo chegará ao posto de líder de todo exército. Você pelo contrário é bravo, valente, não precisa dos conselhos dele. Continue agindo como tem feito, não tema mais seus inimigos nem de passos para trás, de sempre um passo a frente, surpreenda-os com seu ataque feroz e impiedoso. Arranque a cabeça de um dos bárbaros e ergua-a ao alto na ponta de sua espada com sua mão direita para que todos temam você Gutrid. Isso feito o rei Labur ira te estimar ainda mais.

Ranzão é ferido

No dia seguinte os soldados de Labur rumaram para as terras dominadas pelos exércitos de rebeldes e após alguns dias de caminhada chegaram ao vilarejo tomado por eles e se surpreenderam com a cena que viram, o vilarejo que antes fora próspero e bonito havia sido reduzido a cinzas. Os soldados de Labur partiram para o ataque e travaram mais uma batalha sangrenta contra os rebeldes, Ranzao liderava o grupo e Gutrid usava toda sua habilidade para acabar um por um com todos os rebeldes que cruzavam seu caminho. Em certo momento daquela batalha Ranzao foi ferido por um dos rebeldes e caiu de seu cavalo, Gutrid viu aquilo e antes que um dos rebeldes pudesse desferir o golpe fatal contra Ranzao Gutrid surpreendeu o inimigo e o atacou por trás salvando a vida de seu irmão. Gutrid ergueu seu irmão do chão e pediu para que outros soldados levassem ele dali, os soldados obedeceram a ele e movido pela fúria de ver seu irmão ferido Gutrid encheu seu coração de ódio e foi matando ainda com mais fervor e desejo cada rebelde que ousava lutar com ele. Ao matar o último rebelde Gutrid lembrou-se de tudo que Egos havia o dito e arrancou a cabeça do rebelde, colocou-a na ponta de sua espada e a ergue com sua mão direita o mais alto que pode, deu um urro que assustou a todos e disse para os soldados que com ele haviam lutado naquela batalha.

-Levarei esta cabeça até o território desses mortos de fome e a pendurarei em uma árvore para que todos vejam e temam o exército de Labur e meu nome, assim ninguém mais se atreverá a invadir nossas terras e tomar nossas mulheres. Vida longa ao rei Labur e ao seu exército!

Antes que mesmo que o exército de Labur voltasse para as imediações do castelo o rei ficou sabendo do que acontecera com Ranzão e sobre a atitude de Gutrid que havia inflamado o espírito de luta nos soldados, aquilo chamou a atenção do rei e ele pediu que uma de suas carruagens fosse até o campo de batalha trazer Ranzão e Gutrid. A carruagem foi despachada com dois soldados e dois médicos tratar dos ferimentos de Ranzão, havia ainda um espaço sobrando para que Gutrid pudesse voltar com ele. O rei Labur deu ordens claras para os soldados na carruagem que fossem o mais rápido possível, pois ele tinha muito estima por Ranzão e queria vê-lo bem assim como também tinha urgência para falar com Gutrid.
Passaram-se quatro dias desde a saída até a volta dos soldados e médicos mais Gutrid e Ranzão e ao ver a carruagem ao longe Labur desceu e foi esperar seus bravos guerreiros junto aos portões do castelo. Assim que a carruagem entrou e parou um soldado abriu a porta e o rei Labur dirigiu sua palavra para Ranzão.

-Como anda meu caro, está bem?
-Sim majestade, graças a meu irmão estou vivo e o ferimento não foi fatal, contudo creio não mais ser capaz de servir-te.
-Gostaria muito que pudesse continuar me servindo, mas você cumpriu bem seu papel em cada batalha que travou, agora é hora de descansar meu caro amigo.
-Obrigado majestade!
-Também gostaria de conversar com você Gutrid, siga-me – disse Labur.
-Como queira.

Gutrid sobe de posto

Os dois passaram pelos vários corredores do castelo até chegarem à sala onde Labur poderia conversar com Gutrid sem que ninguém os pudesse ouvir, lá a conversa começou.

-Gutrid, meu mensageiro me informou sobre sua conduta durante a batalha, disse-me que você ao vencer seu último inimigo ergueu a cabeça dele em sua espada e isso inflamou a fúria em meus soldados, isso é verdade?
-É sim majestade, ao ver meu irmão ferido e a ponto de ter sua vida tirada eu acabei com todos os rebeldes que cruzavam meu caminho e então fiz o que te foi relatado com o último deles.
-Isso demonstra em muito sua bravura e seu espírito de luta Gutrid e agora que Ranzão está ferido e não pode mais servir-me eu nomeio você como novo líder dos meus soldados. Assim como seu irmão, você será agora responsável por liderar um grupo de quatrocentos soldados e tenho certeza que em muito pouco tempo será líder de todo meu exército no fronte de batalha.
-Agradeço por sua confiança em mim majestade, fique certo de que não o desapontarei.
-Assim espero Gutrid. Saiba que tenho grande estima por seu irmão e espero que você faça jus à reputação dele no campo de batalha.
-Tenha certeza que farei!
-Assim seja. Está dispensado.
-Com sua licença, majestade.

Gutrid voltou para seu aposento ainda sem acreditar no que havia acabado de acontecer, ele sempre imitara seu irmão quando mais jovem, mas nunca se imaginou como soldado do rei, tampouco como líder de um pelotão. Passadas algumas horas em seus aposentados e depois de fartar-se com algumas mulheres Gutrid recebeu a visita de Egos.

-Olá irmão, diz-se por todo reinado que você foi muito bravo no campo de batalha, seu nome corre à boca de todos.
-Sinto-me feliz, mas nada disso me importa de verdade.
-Porque está tão feliz então?
-O rei Labur me nomeou como líder de um pelotão de quatrocentos homens, é por isso que estou feliz! Graças a o que você me disse hoje deixei de ser um simples soldado e subi na hierarquia do rei. Obrigado irmão!
-Não me agradeça Gutrid, eu apenas disse o que fazer, mas foi você quem o fez. Você é o bravo e temido Gutrid, ninguém pode vencê-lo meu irmão. Não dê mais ouvidos a Ranzão, pois ele não passa de um medroso, você sim tem fibra de guerreiro. Você é grande e cada vez mais poderoso, em breve será uma lenda!
-Às vezes você me assusta, mas cada coisa que você diz torna-se real, quem sabe um dia não serei tão grande como você prevê.
-Será meu irmão, tenho certeza. Você é invencível, creia nisso e jamais perderá uma só batalha!

Egos aumenta seu poder

Egos deixou o casebre de Gutrid ainda sem acreditar no que havia ocorrido, seu irmão ganhava cada vez mais poder na hierarquia de Labur e também aumentava sua fama na cidade, Egos não conseguia entender como aquele menino franzino havia se tornado o grande Gutrid de Luxur. Desde pequeno Egos tinha inveja de seus irmãos, principalmente de Gutrid, pois achava que ele era o preferido entre os três irmãos. Egos se aproveitava da mente fraca de Gutrid para fazê-lo acreditar que realmente era invencível, mas na verdade tudo que ele queria era ver seu irmão cair em batalha.
O tempo foi passando e vez ou outra batalhas eram travadas para se estender cada vez mais os territórios de Labur, em cada batalha Ranzão orientava Gutrid para nunca deixar de ser atencioso no campo de batalha enquanto Egos insuflava sua invencibilidade e fazia-o acreditar que era praticamente onipotente. Após alguns anos Gutrid se tornou capitão supremo de todo exército de Labur e pelo fato do rei não ter nenhum herdeiro isso fazia de Gutrid o descendente direto do reino de Luxur. Insatisfeito e transtornado com o sucesso de seu irmão Egos decidiu tomar uma decisão drástica. Ele foi até a Floresta dos Pinheiros, um lugar que nunca era visitado nem mesmo pelo mais bravo soldado, pois se acreditava que lá vivia um bruxo chamado Illanus que não deixava sair vivo ninguém que entrava na floresta. Lá antes que Egos encontrasse Illanus o bruxo o encontrou.

-Olá Egos!
-Como sabe meu nome?
-Eu sou Illanus, não há nada que foi, é, ou será que eu não saiba. Não teve medo de entrar em minha casa e não sair daqui com vida?
-Não, creio que o senhor não me matará.
-Pensa certo, temos a mesma essência, é por isso que você sabe que pode vir e voltar para sua casa vivo. Mas deixamos de conversa e vamos ao que de fato nos interessa. Você quer que seu irmão perca uma luta no campo de batalha certo? Você quer vê-lo sucumbir.
-Sim, é isso que quero. Gutrid não pode se tornar tão poderoso assim!
-Tenho algo para te dizer. Sabe por que teu irmão nunca perde uma luta?
-Não, não sei a resposta.
-Porque Gutrid é forte, ágil, inteligente, um perfeito guerreiro. Só, existe um inimigo que pode vencê-lo.
-Então me diga como faço para encontrá-lo e te pagarei o que for.
-Não é preciso encontrá-lo, pois ele não existe. A única pessoa que pode vencer Gutrid é ele mesmo.
-Como assim?
-Traga-me um pedaço da unha do dedão do pé direito de Gutrid e deixe que o resto eu farei.
-E o que o senhor quer como pagamento?
-Simples, seu ódio por seu irmão já me alimenta, não precisa me pagar nada.
-Obrigado!
-Contudo, se você desistir levarei sua vida como pagamento. Então, está certo de que é isso que você realmente quer? Lembre-se, uma vez que decidir salvar seu irmão se você se arrepender de nosso trato terá que pagar com sua própria vida.
-Estou certo disso - disse Egos um tanto hesitante.
-Então está feito, traga-me a unha de seu irmão e deixe que farei o resto. Quando voltar com a unha de Gutrid te direi o que deve fazer.
-Está certo, até breve.
-Até logo.

A primeira queda pela vaidade

Egos deixou a Floresta dos Pinheiros e voltou para o vilarejo onde morava, ele passou o resto do dia lá e quando a noite chegou ele foi para as ruas do reino procurar por uma mulher. Ele andou por algumas horas até que achou a mulher perfeita, ele chamou a moça e ela o atendeu.

-O que quer meu nobre senhor?
-Estava te olhando e creio que você seja perfeita para o que quero. Você é jovem, tem belos seios, bonitos cabelos, se encaixa perfeitamente.
-Obrigado pelos elogios, mas saiba que eles não irão me comprar, uma noite comigo custa caro.
-Isto lhe paga? – Perguntou Egos enquanto mostrava para moça uma moeda de ouro que sacara de seu bolso.
-Paga uma semana inteira se preferir. Vamos, mostre-me onde é sua casa.
-Calma, não é para mim, é para meu irmão.
-Que bom irmão você é!
-Escute moça, escute com atenção. Levarei-te até o casebre de meu irmão gêmeo, o nome dele é Gutrid, o grande capitão do exército de Labur.
-Nossa, Gutrid! Será um prazer para mim deitar-me com ele.
-Fique quieta e ouça, ao entrar no casebre de Gutrid você dirá que é um presente dos moradores de Luxur para agradecer Gutrid pela sua bravura no campo de batalha e por ter protegido nossas mulheres. Meu irmão é um tolo e com certeza acreditará em você. Se ele ficar em dúvida tire sua roupa, meu irmão não resiste a moças jovens e belas como você. Deite-se com ele e o dê o que beber até que ele fique bêbado, após isso te peço que corte um pedaço da unha do dedão do pé direito de Gutrid e me traga, não precisa ser um pedaço muito grande, mas grande o bastante para que você possa trazer até a mim.
-Pra que quer isso?
-Isso não te importa, apenas faça o que te peço e amanhã essa moeda de ouro será sua.
-Está certo.
-Então vamos, me siga.

Egos saiu com a prostituta que havia conhecido e a levou até o casebre de Gutrid, elas chegaram até bem perto e pela janela Egos viu que seu irmão estava sozinho, uma oportunidade perfeita para por o plano de Illanus em prática. Egos abandonou a moça e deixou que ela fizesse seu trabalho, ela entrou no casebre de Gutrid e o pegou de surpresa.

-Ora moça, está perdida?
-Não, acabei de encontrar o que eu vinha procurando.
-Quem é você?
-Sou Michaela e estou aqui para te satisfazer essa noite, um presente em nome da cidade para o bravo Gutrid.
-Não sabia que era assim tão querido em Luxur, sinto me honrado! De fato você é uma moça muito bonita e diz a boa educação que não é de bom tom que recusemos presentes, sendo assim entre e faça aquilo para o qual foi paga.
-Será um prazer enorme!

Os dois tiveram uma noite tórrida de prazer e sempre que podia Micahela fazia com que Gutrid tomasse mais uma taça de vinho e após algumas horas Gutrid adormeceu, nessa hora Michaela tirou um pedaço da unha do dedão direito de Gutrid e saiu de seu casebre antes que ele pudesse acordar. Ela então foi ao encontro de Egos e lá deu o pedaço da unha de seu irmão para ele.

-Aqui está o que me pediu, agora quero meu pagamento.
-Como prometido, está aqui sua moeda de ouro. Muito obrigado pelos seus serviços.
-O prazer foi todo meu, se precisar de mim mais uma vez sabe onde me encontrar.
-Está certo, agora vá embora e lembre-se de nunca mencionar que me conhece.
-Que seja.

O mal é feito

Egos tinha em suas mãos aquilo que Illanus o havia pedido e embora não soubesse o que o bruxo faria com aquele pedaço de unha ele voltou rapidamente para Floresta dos Pinheiros.

-Illanus, fiz o que me pedira, aqui está a unha de meu irmão gêmeo.
-Muito bem meu caro Egos, vejo que é um homem de palavra, admiro muito pessoas assim!
-Agora me diga, o que fará com essa unha?
-Tudo ao seu tempo meu caro, agora apenas ouça o que te direi. Existe um vilarejo já bastante combalido ao oeste do reino, diga para Gutrid dominá-lo para que assim que assumir o reinado de Labur já ter suas terras expandidas ainda mais. Diga para ele reunir alguns soldados de confiança e prometer terras nesse vilarejo para eles e também o diga que faça escondido sem consultar o rei.
-Mas para que isso tudo?
-Labur está cansado de tantas lutas por território e seu irmão precisa de um motivo para lutar, pois será no combate que ele padecerá. Ele sempre te ouviu e agora não será diferente, em breve nosso plano se cumprirá.
-Está certo Illanus, farei o que me diz.

A segunda queda pela vaidade

Egos voltou para sua casa e em seguida foi falar com Gutrid, ao chegar lá ele o viu conversando com Ranzão.

-Seja bem vindo meu irmão – disse Ranzão. Estava aqui dizendo para Gutrid que em breve ele será rei de Luxur, basta agir naturalmente e as coisas acontecerão no tempo certo.
-Gutrid sempre foi um ótimo guerreiro e em breve será o melhor rei que Luxur já viu. E ainda digo mais, Gutrid pode expandir Luxur como jamais Labur sonhou, um dia nosso irmão será o rei de um império.
-Cuidado Egos, nosso irmão sabe de suas limitações e conhecer seus próprios limites é o principal para que qualquer pessoa possa conquistar seus objetivos.
-Pare com isso Ranzão, Gutrid não precisa de limites, ele é muito mais do que qualquer um jamais fora.
-Vamos parar com isso rapazes – disse Gutrid. Vamos beber e comemorar, deixemos o futuro para quando ele chegar.

Os três beberam e conversaram até a hora em que Ranzão deixou o casebre de Gutrid. Assim que ele saiu Egos começou novamente a conversa com seu irmão.

-Irmão, não dê ouvidos para Ranzão, você é invencível e um dia será um grande imperador! Ouça o que te digo, existe um vilarejo ao oeste que está combalido, junte alguns soldados de sua confiança e tome esse vilarejo, você não precisa esperar que aquele velho do rei Labur morra para começar a expandir seu território. Um dia isso tudo será seu então não perca tempo, comece agora. Você pode ter o mundo todo aos seus pés Gutrid, basta apenas você começar.

A verdade se revela

Gutrid a princípio achou uma loucura a idéia de Egos, mas cada vez mais ele se achava invencível e decidiu levar aquele idéia louca a frente para se afirmar ainda mais como o maior de todos os guerreiros. Ele foi até o ferreiro e pediu que ele fizesse um escudo com a letra G, substituindo o antigo escudo que usava com as letras LX. O ferreiro fez o que Gutrid pediu e então o soldado reunião alguns homens de sua confiança e os prometeu terras naquele lugar que seria conquistado. Quarenta e sete homens foram com Gutrid para o vilarejo e lá tudo parecia bem, parecia que seria uma conquista sem luta, contudo alguns minutos depois da tomada do território um pequeno exército de homens liderado por um cavaleiro cujo rosto não podia ser feito iniciou uma luta contra o pequeno exército de Gutrid. A luta foi travada e para o espanto de Gutrid o exército inimigo era forte e acabava pouco a pouco com os quarenta e sete homens de Gutrid, ele era o único que conseguia vencer os soldados que desferiam golpes contra ele. Gutrid percebeu que a força do exército inimigo estava em seu líder de rosto tampado e foi em direção a ele, este correu e levou Gutrid para um lugar onde ambos pudessem lutar sozinhos. Gutrid começou bem, ferindo o guerreiro inimigo com alguns leves cortes, ele se enchia cada vez mais de confiança até que em certo momento quando ele pensava já ter ganhado aquela luta o inimigo deu um passo para trás acertou Gutrid em sua perna esquerda. Ele caiu no chão e ao tentar se levantar o guerreiro inimigo chutou seu braço direito, o que fez Gutrid soltar sua espada. Ele tentou vencer a dor e alcançar sua espada, mas seu esforço foi em vão.

-Pobre Gutrid, se achava o invencível e agora vê seu fim cada vez mais próximo.
-Dê-me minha espada seu covarde para que possamos lutar como homens.
-Lutar como homens? Olhe para você, um cachorro praticamente morto, com ou sem espada você não é páreo para mim. Acabar com você seria como acabar cm uma mosca, você não consegue nem mais deixar o chão. Trouxe quarenta e sete homens para que fossem mortos por causa de sua vaidade, grande líder você é.
-Mostre-me seu rosto seu covarde, quero ver quem é aquele que em breve padecerá pela minha espada.
-Como queira.

O guerreiro tirou seu capacete reluzente e para surpresa de Gutrid ele tinha seu rosto.

-Egos, é você? – Perguntou Gutrid.
-Claro que não, eu sou você Gutrid. Sou você, porém sem sua vaidade e sua arrogância, tenho todas as suas qualidades atuais e todas as antigas que você perdeu com o passar tempo. Ironia pensar que seu maior inimigo foi você mesmo e que você morrerá pela mesma espada que tanto matou.

Uma segunda chance

Gutrid arregalou os olhos sem acreditar naquilo tudo, ele viu como tudo o que havia ouvido era verdade e se desesperou com a morte iminente. Ele via sua espada reluzente sendo segurada pelo seu inimigo e apontada para seu pescoço, a morte parecia certa para Gutrid. Quando o inimigo estava prestes a acabar com a vida de Gutrid Egos apareceu de trás de uma árvore e matou o inimigo com uma facada nas costas. Naquele mesmo momento Egos sentiu uma forte dor nas costas, no mesmo lugar onde ferira o inimigo e ao cair no chão com suas últimas forças disse para seu irmão.

-Perdoe-me, fui eu quem o criou e matando-o eu também acabo com minha vida. Ouça a Ranzão e você será um grande homem. Isso vale muito mais do que ser um grande guerreiro.

Egos faleceu e Gutrid perdeu todos seus homens, ele foi encontrado mais tarde por uma mulher que morava no vilarejo e ela tomou conta dele e cuidou de seus ferimentos. Ao se recuperar Gutrid voltou para o reinado de Luxur e foi direto ao encontro do rei Labur que queria em urgência falar com ele.

-Gutrid, fiquei sabendo de seu ato impensado. Pergunto-me porque fazer aquilo sem minha autorização, você era meu melhor homem, poderia ter sido um rei e agora aos meus olhos não passa de um louco.
-Majestade...
-Cale-se Gutrid, não quero ouvir sua voz. Pegue suas coisas, todas elas e deixe Luxur. Deveria ordenar que o matassem, mas como tenho estima por ti e por seu irmão deixarei você viver, mas me prometa que nunca mais aparecerá em minhas terras.

Gutrid deixou as terras do rei e foi seguido por seu irmão mais velho. Ele nunca mais voltou a ser soldado, nem mesmo ter a boa vida que tivera no passado, contudo ele teve a chance única de ver tudo que de errado fizera no passado e a chance de recomeçar.

Desenho por Rafael Assis

sábado, 21 de agosto de 2010

Meu sonho

Eu sonhei com um mundo que era regido pelo amor, vivi esse sonho de todo meu coração durante a calma e inocência da noite. Ao acordar vi o sol pela minha janela brilhando raios límpidos e claros que invadiam meu quarto sem pedir licença, pensei que podia trazer meu mundo de sonhos para realidade, mas a ingenuidade e simplicidade da noite foi roubada pela ganância do dia. Durante o dia não há espaço para o amor, pois todos andam com muita pressa. É preciso juntar dez mil Reais, é preciso estar pontualmente na próxima reunião, é preciso não perder o trem, é preciso ganhar cada vez mais dinheiro sem nem mesmo saber o porquê. Se ao menos as escadas rolantes fossem mais rápidas, se os elevadores tivessem jatos, se as distâncias não fossem tão longas, mas dizem que não podemos mudar o mundo e assim é que crescemos, acreditando que devemos apenas nos adaptar a ele. Incoerente é pensar que se somos nós que fazemos o mundo ser o que é como não podemos mudá-lo?
Enfim, ao acordar do meu sonho onde vivia em um mundo perfeito me deparei com a brutal e onipotente realidade que não te dá espaço para respirar, para sonhar, para andar devagar, para ver as belezas do mundo, que não te dá tempo para fazer algo que todos nós deveríamos fazer...amar! É claro que não há tempo para isso, pois o mundo exige que ponhamos qualquer coisa em primeiro lugar menos o amor, qualquer coisa é mais importante do que uma pessoa que te faz suspirar, que te faz sentir bem ao lado dela, que te faz feliz e que te faz querer estar ao lado dela para todo sempre. Antes de amarmos alguém é preciso que tenhamos uma faculdade, que tenhamos um bom emprego, que tenhamos um bom salário, que possamos nos realizar profissionalmente. Essas são idéias tão pré-estabelecidas em nossas mentes que simplesmente começamos a achar que é impossível atingir todas elas se antes de tudo amarmos alguém. É como se hoje amar a si mesmo primeiro significasse não amar ninguém antes de realizar suas próprias conquistas e tornar suas metas pessoais realidades. E se acreditamos ou fazemos o contrário somos loucos, sonhadores, idiotas, somos os criminosos errados que merecem ser exilados e largados ao esquecimento cuja pena é amargar a idéia de nunca seremos vencedores por termos colocados o amor em primeiro lugar.
Hoje em dia é assim, se você não possui uma boa faculdade, um bom emprego, um bom carro, uma boa casa, você comete o mais sério e imperdoável de todos os pecados, aquele que pelo qual Deus não deixará você nem passar perto dos portões dourados do paraíso. Por outro lado, se você consegue tudo isso e coleciona “amores” o mundo te aplaude e faz de você estátua de busto em bronze para ser colocada em praça pública, o mundo te elogia e vangloria pela sua “belíssima” conduta! Digno de admiração seja o rico empresário, alvo de críticas e menosprezo seja o amante.
Sinto pena dos que pensam como o resto do mundo, sinto pena dos filhos que esse mundo gerará, sinto pena pela pena que Deus sente de seus filhos, tão maltratados e nascidos com essa idéia torta em suas mentes. Já nascem sem o direito de ter suas próprias escolhas, já nascem sem o direito de se deixarem sentir um sentimento tão puro e belo. Para poucos como nós o que resta? Creio que seja continuar acreditando que um dia isso tudo mudará enquanto enxugamos nossas lágrimas por não acharmos o nosso lugar aqui, desabrigados de nosso próprio lar.

Atlas


Rebitei cada rebite, soldei cada emenda, gastei a maior parte de meu tempo para construir o mundo perfeito. Por fim ele ficou pronto, lindo, polido, pronto. Mas então, todo meu ardor e todo meu cuidado foram em vão, pois tanto quis que ele fosse o mais belo e mais precioso que acabei tornando-o o mais pesado e o mais doloroso. Ledo engano achar que o que faz algo especial é pensar que precisa ser grandioso, ingenuidade pensar que posso querer que os outros sintam por mim o que sinto por eles, punhal ter a constatação de que não adianta criar o maior de todos os mundos se neste falta uma pequena ilha. Agora o meu mundo que antes me arrancou tanto suor de prazer, agora me esmaga impiedoso e me destrói sem ao menos ter compaixão por seu próprio criador. Criador e criatura, bem e mal, médico e monstro. O que de pior existia em mim foi o que destruiu o que de melhor havia em mim.

Desenho por Rafael Assis

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O menino do trem

Cinco horas da tarde, o sol já começa a traçar seu caminho rumo ao oeste e seu fraco brilho vai vagarosamente dando lugar a escuridão da noite, na Estação Dom Pedro II as plataformas se encontram repletas de trabalhadores cansados, sujos e suados, mais um dia de trabalho se foi e depois de tudo o que passaram só o que eles querem é encontrar um lugar sentado dentro do trem. Pelo auto-falante o locutor anuncia: “Próximo trem com destino a Japeri dará entrada na plataforma oito linha agá, horário previsto de partida às dezessete horas e dez minutos”. Nas plataformas os cansados representantes da força de trabalho brasileira se aproximam da faixa amarela e ficam esperando enquanto ao longe com seus fortes faróis acesos o trem se aproxima. Ao finalmente parar e abrir as portas, os embora cansadas trabalhadores ainda encontram força para correr o suficiente para sentar, uma correria louca e frenética que vale o grande prêmio do dia, o direito de voltar para casa sentado.
Nos bancos dos trens o cansaço é tanto que seus já acostumados passageiros nem se importam de ficar de olhos abertos, descansam e confiam em algum sexto sentido desconhecido que parece os avisar quando a estação certa chegar. Em meio ao aperto dos já também cansados vagões, camelôs se apertam entre os passageiros vendendo de tudo que se possa imaginar, capas para celular, cortadores de legumes, DVDs, chaveiros, prendedores de cabelo, picolé, cerveja, refrigerante, água e afins. Corpos também cansados e com as colunas tortas de tanto carregar as pesadas caixas de isopor repletas de gelo e algo mais, indo de um lado para o outro, trocando de vagão a cada estação tentando ganhar o pão deles de cada dia. Em meio a tantas vozes grossas e corpos altos uma voz ainda um tanto quanto aguda que habita em um corpo pequeno chama atenção, tão jovem é o menino e tão grande é o peso que carrega. Ele vem tentando se equilibrar enquanto o trem balança de um lado para outro em cada curva, sem contar com os diversos solavancos devido aos trilhos nada retilíneos da Estrada de Ferro Central do Brasil. Em seu rosto o suor lhe dá um brilho triste que chama ainda mais a atenção, seus olhos estão bem abertos, atentos para uma mão que possa se levantar e seus ouvidos também atentos para qualquer voz que possa chamá-lo. Alguém o vê e diz “vai pra escola moleque”, mas não há tempo para escola, pois é preciso ser homem na hora em que ele só queria poder ter o direito de ser menino. Sua caixa de isopor já surrada e repleta de fita adesiva entorta a coluna do menino e guarda em si diversas latas de refrigerante e garrafas d’água, ele como exemplo vivo de Atlas da sociedade moderna carrega o peso de seu mundo em seus ombros. Eu me pergunto se na já lotada caixa do menino ainda há espaço para sonhos, se ainda espaço para esperança. Será que já com essa vida tão ditadora e cruel ainda existe espaço para ele querer ser jogador de futebol, bombeiro, estudante, menino?
É triste ver como a vida acontece tão cedo e de forma tão abrupta para uns e os tira a oportunidade de poder crescer a seu próprio passo, é possível ver nos olhos desse e de tantos outros meninos do trem um sentimento gritante de tristeza, é possível ver que eles queriam estar em qualquer outro lugar, menos ali. Triste também é ver que fora do trem nas tantas escolas que vemos por aí tantos outros meninos e meninas que podem estar ali simplesmente levam a escola como brincadeira e não dão o devido valor a essa coisa maravilhosa que é a educação. Talvez, se pelo menos por algumas horas eles pudessem estar na pele do menino do trem com certeza dariam muito mais valor ao ensino e sentiriam uma sensação totalmente diferente no momento em que acordam e somente tem que se preocupar em qual roupa vestir para mais um dia de escola, brincadeiras, lan house e casa.

Ícaro

Ícaro era o filho de Dédalo e ambos vivam aprisionados em um labirinto construído pelo próprio Dédalo para prender o Minotauro. Desse labirinto ambos podiam ver a cidade de Creta e motivado por uma grande vontade de deixar aquele lugar Dédalo construiu para si e para seu filho dois belos pares de asas feitas com penas que caiam de pássaros que voavam sobre o labirinto e também com cera. Dédalo advertiu seu filho para que não voasse perto do mar, caso contrário a umidade aumentaria o peso das penas, tampouco poderia voar perto demais do sol, pois o calor derreteria a cera de suas asas. Ícaro, contudo, viu-se deslumbrado com o prazer de voar e subiu cada vez mais alto e não deu ouvidos para os conselhos que seu pai lhe dera. Pouco a pouco a cera em suas asas foi derretendo e Ícaro caiu ao mar enquanto seu pai olhava impotente e seguia seu rumo em direção a Creta.
Essa e apenas mais uma das diversas histórias da mitologia grega, que é muito rica e também muito interessante. Essa história em particular embora cheia de fantasia cabe muito bem em muitos casos da sociedade moderna. Quantas vezes nós vemos pais que constroem belas asas para seus filhos, muitas delas até mesmo mais belas que as de Dédalo, mas seus filhos assim como Ícaro se deslumbram com tanta liberdade e acabam simplesmente se perdendo no caminho rumo a Creta? Às vezes nossos pais nos dão educação, carro, casa, e por não sabermos como usar acabamos acabando com tudo, nos perdemos em nossas próprias ambições e nos tornamos escravos da nossa falta de racionalidade, jovens movidos pelo coração muito mais que pela razão acabam pagando da forma mais pesada e amarga pelo desejo de querer subir mais alto do que se pode. E assim como Ícaro traçamos nosso caminho rumo ao mar que lá embaixo nos espera com ondas famintas loucas para nos mostrar toda sua força. Somos Ícaros caídos, sem asas, Ìcaros que não podem mais voar, levados de cá para lá e de lá para cá pela vontade do mar.
Quantos de nós não nos arrependemos de algo que fizemos e em nossas mentes pensamos “ah se eu tivesse ouvido meus pais”, talvez se não tivéssemos sido tão impulsivos, se não tivéssemos sido tão inocentemente enganados pelo brilho do sol que saía por entre as nuvens talvez tivéssemos encontrado nosso caminho e hoje estaríamos todos em nossas Cretas. O que nos resta, contudo, e que diferente de Ícaro que encontrou no mar a sua morte nós ainda podemos mesmo sem asas usar nossos braços para nadar e uma vez que alcancemos a orla podemos nos secar e recomeçar, dessa vez andando, um passo de cada vez, invés de voando deslumbrados com o infinito. O que nos resta é esta palavra chata que se chama erro, porém podemos transformá-la em algo mais belo e renomea-lá para aprendizado para que assim não nos sintamos como Atlas, que carrega o céu sobre seus ombros, pois transformando erros em aprendizado podemos ser capazes de mais uma vez traçar nosso caminho e dessa vez não chegar apenas a Creta, mas chegarmos onde quer que nossos pés possam nos levar.

domingo, 15 de agosto de 2010

"O que você vai ser quando crescer?"

É impossível conseguir lembrar quantas vezes alguém chegou perto de mim quando era menino e me fez está tão famosa pergunta; eram meus pais, parentes, professores, todos queriam saber o que eu queria ser quando eu crescesse. Engraçado que naquela época eu não sabia nem o que eu iria fazer no dia seguinte, quanto mais saber o que fazer quando eu fosse maior. Mesmo assim, como toda criança, eu já quis ser várias coisas. Acho que uma das primeiras coisas que quis ser foi desenhista, trabalhar para os estúdios Disney, depois bombeiro, não por salvar vidas, mas sim por poder apagar fogo. Depois, me lembro que nas eliminatórias para copa de 94 eu via os jogos e via Taffarel no gol do Brasil e naquela época eu quis ser goleiro de algum time e naquela mesma época Senna era o rei das pistas então eu também queria ser piloto de Fórmula 1. Mais tempo passou e eu cheguei ao ensino médio e lá descobri como era legal desenhar casas e outras coisas, naquele momento eu quis ser arquiteto e Oscar Niemeyer se tornou meu grande mestre. O tempo passou mais uma vez e eu acabei por me tornar algo que nunca quis, professor. Exerci minha profissão com muita vontade e motivação e por isso acabei conhecendo pessoas bacanas, fiz alguns amigos e conheci você, que mudou minha vida.
Com você eu fui a lugares que não imaginava, me tornei uma pessoa completamente diferente e muito melhor do que eu pensei que pudesse ser, vivi experiências inesquecíveis e principalmente descobri o real significado do verbo amar. Você mudou minha mente e plantou um lindo jardim em meu coração, extraiu o melhor de mim e me fez conhecer muito mais do que eu pensei que me conhecesse. Sinto-me feliz e seguro ao seu lado porque sei que posso contar sempre com você a qualquer hora do dia ou da noite e também sei que nos momentos em que estou confuso você me fazer enxergar o que preciso ver porque você parece me conhecer melhor que eu mesmo.
Quando conheci você minha vida mudou por completo e por isso também mudou a resposta que daria se, por exemplo, você me perguntasse "Rafael, o que você vai ser quando crescer?". Hoje eu responderia assim: "Posso não saber com toda certeza qual profissão quero seguir, embora goste muito de dar aulas para o público com que estou trabalhando agora. A única coisa que posso dizer com certeza é que eu quero nunca pensar que não preciso mais me dedicar à você ou pensar que seu amor é garantido independente do que faça, quero sempre cuidar de você e dia após dia te dar mais um motivo para você querer passar mais um novo dia ao meu lado. Quero continuar sendo um bom namorado para crescer tudo o que preciso para em um futuro próximo eu possa ser um ótimo marido. Quero continuar sendo seu melhor amigo, quero continuar te amando como se cada dia fosse o primeiro e ao mesmo tempo o último. Quero fazer com que cada momento que passo ao seu lado seja mágico para nunca deixar que se apague nem mesmo que esmaeça a chama em seu coração do amor que você sente por mim. Quero continuar crescendo, quero continuar te ajudando em que for preciso, quero continuar sendo parte da sua vida, quero continuar sendo umas das suas alegrias, quero continuar habitando seus sonhos, quero continuar merecendo seus beijos e acima de tudo quero continuar merecendo o que de melhor você tem, o seu puro e maravilhoso amor. Em resumo, quero continuar sendo seu único e eterno homem."

Hoje e sempre, seu. Te amo princesa!

sábado, 7 de agosto de 2010

Eternos sussurros

Gostaria de encher meus pulmões com todo ar que coubesse dentro deles, após isso feito eu usaria todas minhas forças para dar o grito mais alto que alguém já ouvira para que todos pudessem saber quanto eu te amo. Contudo, os dias iriam passar e o mundo todo se esqueceria do quanto eu sou eternamente apaixonado por ti. Sendo assim, invés de usar todas minhas energias para dar um grito para um mundo esquecido prefiro usá-las para dia após dia para sussurrar em seu ouvido e te mostrar através dos meus gestos o quanto meu amor por ti torna-se cada vez mais firme e que não importa se passem minutos ou décadas eu amarei somente a ti, me apaixonando cada vez mais por cada detalhe seu que me será revelado ao passar de cada dia.
Algumas pessoas para se apaixonar mais de uma vez na vida precisam conhecer mais de uma pessoa, Deus abençoou minha vida me dando a graça de me apaixonar todo dia pela mesma pessoa e isso me faz o homem mais feliz do mundo!

Eu, meu amor, simplesmente te amo com o que de melhor existe em mim!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Portas



A vida é um labirinto cheio de corredores e portas, portas que nós nunca sabemos aonde irão nos levar. Algumas delas nos levam a vales escuros e profundos, vales dos quais por vezes nos sentimos incapazes de sair. Outras portas, por outro lado, são feitas de luz e nos levam para lugares dos quais não iremos querer sair, iluminados pela luz e aquecidos pela beleza que a vida nos trás. Mas quem terá coragem de abrir uma nova porta e aventurar-se no que existe por trás dela? Muitas vezes é mais cômodo, menos assustador, menos desafiador ficar em nosso corredor em que já conhecemos cada mofo na parede, cada teia de aranha, cada canto empoeirado a descobrir o que se esconde por trás de mais uma porta. E se passearmos um pouco, apenas alguns metros pelos corredores da vida veremos muitas pessoas paradas, estagnadas em seus cantos sem ir nem vir de lugar algum. Pessoas com rostos pintados pela cor do conformismo e também da falta de vontade de seguir.
Contudo, se abrirmos as portas veremos poucas pessoas em seus novos caminhos, poucos que se arriscaram a entrar e conhecer o desconhecido. E nesse labirinto louco da vida, no final de tudo veremos que vencedores não são aqueles que abriram as portas certas, mas sim aqueles que tiveram coragem de abrir mais uma mesmo depois de ter aberto portas erradas.

Foto por: Renato Assis