Esse meu espaço é na verdade um lugar onde posso postar meu textos e pensamentos. O blog possui esse título porque acredito que o ponto final limita as palavras e sentimentos são muito maiores do que as palavras podem descrever, por isso às vezes não uso ponto final para que os sentimentos não se sintam acorrentados às limitações da gramática.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Valente, o carrinho
Meu nome é Valente e hoje estou aqui para contar sobre minhas histórias.
Eu nasci no ano 2000 e eu me lembro como se fosse hoje, eu era lindo, azul, meus faróis brilhavam como duas estrelas e minha pintura era tão lisinha que chegava a escorregar! Eu tinha bancos confortáveis, minha buzina era forte e eu tinha aquele cheirinho de carro novo que todo mundo gosta. Eu saí da fabrica e pouco tempo depois um senhor me achou lindo e decidiu me comprar, ele era um senhor elegante que tinha um belo bigode grisalho e falava bem, naquele momento eu já sabia que seria bem cuidado. Ele me levou para casa dele e lá conheci o resto da família dele, duas filhas e sua esposa, todas lindas e muito bem educadas. Com aquela família eu fui à praia, ao mercado, viajei para outros estados, eles me davam banho e polimento todos os fins de semana; aquela era uma vida maravilhosa. Mas o tempo foi passando e muitos carros novos foram lançados e então aquele gentil e bondoso senhor de bigode decidiu me vender para comprar um carro novo, ele me levou de volta para a concessionária e lá meio triste eu esperei por meu novo dono.
Alguns meses passaram e então em um sábado um jovem rapaz me viu e gostou de mim, ele tinha 20 e poucos anos e depois de sentar em meus bancos e sentir todo meu conforto ele me comprou e me levou para casa dele. Aquele rapaz gostava muito de mim! Ele me colocou grandes rodas, colocou uma grande caixa de som no meu porta-malas, me pintou com uma tinta que mudava de cor; eu me senti ótimo! Ele me levava para festas com os amigos dele e quase sempre eu era o centro das atenções, eu gostava muito daquela vida! Até que um dia ele quis andar rápido comigo, ele queria ver até onde eu conseguia chegar, mas antes que ele pudesse acelerar muito ele passou em um buraco e não conseguiu me controlar, bati de frente com uma árvore e logo a brincadeira acabou. Meu dono não se machucou sério, mas ele não tinha dinheiro para me consertar então eu fiquei parado na garagem sem fazer nada por muito tempo. A poeira foi tomando conta de mim, as aranhas foram tecendo suas teias e o tempo foi passando. Minha pintura perdeu a cor, meus bancos perderam o charme, minha buzina já não falava mais tão alto e meu motor foi ficando cansado. Até que um dia um velho mecânico decidiu me comprar do rapaz para me consertar, eu fiquei muito feliz, pois finalmente eu voltaria a andar por aí e fazer mais algum dono meu feliz. O mecânico, que andava sempre sujo de graxa, me comprou e consertou tudo que tinha ficado ruim na batida, assim que eu fiquei bom de novo ele me vendeu para um senhor que era feirante. Naquele momento eu pensei que nunca mais seria feliz, pois não iria mais andar rápido pelas ruas, não iria mais à praia, não iria mais tocar música alta, não iria mais ter uma bela pintura, então comecei a chorar. Então o tempo foi passando e eu vi que eu era mais importante do que nunca!
Todo domingo meu dono me enchia de frutas e me levava para feira, é verdade que eu estava meio empoeirado e velho, mas todos gostavam quando me viam, pois sabiam que eu tinha sempre frutas fresquinhas e gostosas! As senhoras vinham todas em minha direção e eu sempre tinha as melhores frutas para elas. Naquele dia em que eu pensei que eu nunca mais seria feliz eu descobri que hoje, sendo um carrinho de feira e ajudando muitas pessoas ao meu redor eu sou na verdade o carrinho mais feliz do mundo!
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