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segunda-feira, 16 de maio de 2011

As correntes da exatidão

Um dia o homem começou a se perguntar sobre o porquê das coisas, começou a querer descobrir por que o céu e o mar eram azuis, por que a maçã caía das árvores; foram incontáveis os porquês. Até que em um dia inspirado ele descobriu que um mais um era dois, pior que isso, ele descobriu que um mais um sempre seria dois. Naquele momento o homem descobriu a exatidão e desde então o começou a persegui-la com afinco. Aquilo que não era exato já não fazia mais sentido e aquilo que era inexplicável não podia mais ser aceito.
No dia em que o homem descobriu que um mais um era igual a dois ele aprisionou muitos de seus semelhantes com as correntes invisíveis da exatidão, ele tornou muitos de nós escravos, seres humanos que perderam o direito da liberdade do fazer e do pensar. Ele nos tornou filhos de uma geração que não sabe mais voar nas asas do nosso pensamento porque nos fizeram acreditar que a vida não é poesia, mas sim matemática.
Daí então começamos a ouvir explicações sobre tudo. Nos disseram que o sol é um estrela, mas esqueceram de nos pedir para dizer o que sentimos quando o astro rei se deixa esconder atrás do horizonte. Nos disseram que um mais um é igual a dois, mas esqueceram de dizer que em um relacionamento um mais um pode ser três, quatro, cinco e que essa soma irá gerar infinitas lembranças e sentimentos muito maiores que a língua poderá jamais ser capaz de expressar. Nos disseram que a lógica da vida é nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer, mas esqueceram de dizer que as coisas das quais mais nos lembraremos e que mais nos farão sorrir serão justamente aquelas que fizemos sem lógica ou razão alguma, pois a vida não requer lógica para ser vivida.
A vida nunca foi nem jamais será uma fórmula matemática ou uma equação onde tudo se encaixa perfeitamente e no final temos um único resultado possível. A vida é cheia de variáveis, repleta de” X” e em sua essência jamais nos obrigou a fazer somente aquilo que julgamos racional, pois a vida está tão distante da exatidão como as palavras estão distantes dos sentimentos. Então é hora de esquecermos o que nos foi ensinado e assinarmos nossas cartas de alforria que nos libertará das amarras do exato. É chegada à hora de arrebentarmos os portões, quebrarmos as correntes e voarmos nas asas do ilógico, do irracional, é hora de nos perdermos no labirinto de tudo que nos foi dito para que possamos nos encontrar em nós mesmos. É hora de desaprendermos a andar com os pés da razão para que possamos reaprender a voar com asas do coração.

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