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terça-feira, 2 de novembro de 2010

O teatro

Tudo na vida tem um lado bom e outro ruim, é assim desde que o mundo é o mundo. Assim foi meu relacionamento, cheio de altos e baixos desde o início até seu final, passando por um momento de aparente calmaria mais ou menos alguns meses pouco após os meses iniciais. No meu sentimento os pontos baixos nunca foram fundo o suficiente a ponto de não me levar ao topo mais uma vez, contudo para ela completo esta frase apenas com reticências. Os momentos difíceis, as lágrimas, as feridas, parecem nunca se fecharem por completo, é como se ficassem escondidas em algum lugar perdido entre a emoção e a razão só esperando o momento certo para renascerem e voltar como fantasmas de um passado não tão distante. Fantasma grande e assustador, que te faz correr se nem ao menos vê-lo, o simples parecer de que ele possa estar por perto te faz procurar uma saída. E o fantasma esteve ali, sempre a minha espreita, fantasma que na verdade parecia ser muito mais real do que eu imaginava ser, fantasma esse que com o tempo me mostrou estar tão vivo como eu e você, com sangue correndo em suas veias, e na verdade aquilo que parecia tão concreto e palpável não passou de uma fantasia criada e encenada por mim mesmo. Como um bom escritor e diretor eu planejei em minha mente cada fala, cada cena, cada ângulo, cada por de sol, e quando a encenação acabava me sobrava a triste, dura e também cruel realidade. E ali eu me via vivendo à sombra dos personagens que eu mesmo criara, chorando lágrimas de tristeza muito mais reais do que as lágrimas de alegria de mentira que chorei em meu teatro. Enquanto todos encenavam e a platéia aplaudia, eu era o único que vivia o espetáculo como se fosse minha própria vida, alheio aos aplausos e a cortina que se fechava quase por completo ao final de cada dia. Quanto tempo eu demorei para perceber, quis atuar mesmo ao fim da peça, chorei nas cadeiras vazias daquele teatro escuro, somente eu ali sentado fitando meus olhos naquele palco vazio enquanto buscava desesperadamente achar em qualquer canto perdido a lembrança de um sorriso, de um beijo, de um bom momento, tentar me agarrar a qualquer esperança de que um dia minha atriz principal pudesse mais uma vez sair do camarim, as luzes se ascenderem e mais uma vez a peça começar, começar e estender-se para além dos limites da arte e saltar para a veracidade da vida.
Contudo ela nunca saiu dali, a platéia não pediu bis, os aplausos cessaram e assim tudo se acabou.
E agora sozinho no meu pequeno mundo de sonhos concretos e vazios tento em vão enterrar minhas lembranças e sentimentos, contudo parece que não existem pás grandes o suficiente nem terra em quantidade abundante que seja capaz de enterrar um teatro de amor onde o sentimento nunca fora uma encenação.
Não há pá, não a terra, há apenas esperança. Esperança do que, não se sabe.

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